quarta-feira, 26 de junho de 2013

ODE À BANDEIRA - Nessa primavera nos trópicos

                                      Foto: Rodrigo Guidotti

Ode à bandeira

                                                                    Para Jorge Tufic
                                              
                                                 Verde, amarelo, azul
                                                                                 e branco


Nosso foco míope,
nesta primavera escarlate
   ‒ com suas horas retintas ‒ ,
ignora a aurora,
despreza a lona do circo austral
de estrelas
impregnando o azul da Nação
com                     a face
perdida na orgia.

E, essa,
desfigurada,
revisita seus mortos,
homens,
pássaros,
plumagens,
                  poesia desgastada.
E estendida a flâmula
sobre o bastião da América
ensaia o remendo
do pavilhão desfeito.

Há de combinar auroras,
madrigais
sob parcas velas,
Sol a pino
de soberbas musas,
o azul do estio
agreste,
pinceladas anis
de Portinari,
festivas bandeirolas de Volpi,
flores de Bracher
e o olhar fulminante
dos santos de Solha.
Há de buscar o irrealizado,
e cobrir a poalha
estendida sobre a consciência.

Há de desfazer
o irremediável
suspiro das águas
baças de espuma,
cravejadas de plásticos
que refringem o sol
e sufocam os peixes.
Há de refazer a sinuosidade
secular dos rios,
que ardem sufocados
pelas mantas de concretos.
Fazer brotar as piracemas,
de escamas furtacor,
a gargalhar inocência.
Há de curar a mágoa
de Iracema –
distribuir oferendas
de contas nos remansos
a se transmutar
em coachar noturno.

Há de dourar
as negras coxas
com grilhões
de justiça,
desnortear o rumo dos
igarapés
no descaminho
das borboletas amarelas.
Há de escorrer
ouro das falésias
no Atlântico            sem fim.

Há de distribuir
o santo daime
na celebração das ocas,
polvilhar o verde
nas loucas esquinas
da miséria.
Preencher a atmosfera
com paragens bucólicas
onde o carvão
se regenere em matas
e os germes
pereçam sob a guarda
das harpias.

Há de perder-se
na remora  
das paisagens
e sentir-se
             terra.


 Jorge Elias Neto



Domingos Martins, 25 de janeiro de 2013

sábado, 15 de junho de 2013

Um poema para Ariano Suassuna



                                                                                Jorge Elias Neto
Suassuna


Lábios nordestinos
         secos
na aridez das certezas
e um perdão
fluido
e um senão
compadecido
e um cão
com plumas
e um sertão
na oralidade
das mãos
na tempestuosidade
do gênio
no dilúvio
da gota serena
na inquietude
demiúrgica das ideias
e um bordão
repisado
oitenta tempos
         chão
de um cordel
encarnado.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Náufrago - Oscar Gama Filho e Miguel Marvilla


Notas

A palavra-fio, tecida no texto, enfim respira na pausa do espaço-forma em que letras são tintas; versos, pinturas; estrofes, mosaicos-iluminuras do que dura, pura púrpura que o belo intitula

SERIAL IDEOGRÁFICO CONCRETO-PROCESSO
“O NÁUFRAGO”
(Parceria de Oscar Gama Filho e Miguel Marvilla)




O NÁUFRAGO         
.


O NÁUFRAGO NASCE (ou o náufrago e a metafísica)

:



O NÁUFRAGO E O TUBARÃO

^

O NÁUFRAGO ENCONTRA O AMOR

;


O NÁUFRAGO CONSTITUI FAMÍLIA

...


O NÁUFRAGO EXPLICA AO FILHO

*


O FILHO DO NÁUFRAGO SEGUE SEU EXEMPLO

.

"


O NÁUFRAGO SE DESILUDE

=


O NÁUFRAGO PROCURA OUTROS OBJETIVOS

+


O NÁUFRAGO CHEGA À MEIA-IDADE

?


O NÁUFRAGO MORRE

?!



Oscar Gama Filho, Congregação do Desencontro. Vitória, Fundação Cultural do Espírito Santo, 1980, p.   44-7.