domingo, 30 de janeiro de 2011
Manhã de mais um dia
Um papel amassado
jogado na calçada da vida
os transeuntes passam...
Ele os observa.
O que traz escrito
foi mantido em segredo
pelas mãos que o desprezaram
era branco há poucas horas....
Já não o é mais.
Nele se misturam as marcas
de tantas angústias deixadas incógnitas
nesta manhã de mais um dia.
O vento o lança entre asfaltos e esquinas
o homem o pisa e chuta
sempre novas marcas....
O melhor que pode esperar
é que a reciclagem lhe devolva a dignidade
mas o que traz escrito não importa?
E as lições das ruas não interessam ao homem?
Talvez considerem que suas verdades devam ser mesmo esquecidas
o que se deixa nas ruas são os dejetos do inconsciente.
Com o passar das horas,
com o passar das ruas,
com o passar das vidas
já é o papel uma massa compacta, enegrecida e densa
perdeu sua pureza,
deixou de ser leve.
Foi-se o branco ariano da hipocrisia.
Ficou a verdade negra
crua, incontestável, verdadeiramente humana.
Deixou de ser papel,
passou a ser lixo
rico em sabedoria,
esquecido na sarjeta
de mais um dia.
Jorge Elias Neto
(Verdes versos - 2007)
Postado por Jorge Elias às 9:50 PM 2 comentários
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domingo, 23 de janeiro de 2011
Gilles Deleuze
Fragmento de entrevista de Gilles Deleuze
(L´Autre Journal, outubro de 1985)
in: Conversações -Gilles Deleuze - editora 34
Postado por Jorge Elias às 4:59 PM 3 comentários
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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Dante Milano
Salmo perdido
Dante Milano
Creio num deus moderno,
Um deus sem piedade,
Um deus moderno, deus de guerra e não de paz.
Deus dos que matam, não dos que morrem,
Dos vitoriosos, não dos vencidos.
Deus da glória profana e dos falsos profetas.
O mundo não é mais a paisagem antiga,
A paisagem sagrada.
Cidades vertiginosas, edifícios a pique,
Torres, pontes, mastros, luzes, fios, apitos, sinais.
Sonhamos tanto que o mundo não nos reconhece mais,
As aves, os montes, as nuvens não nos reconhecem mais,
Deus não nos reconhece mais.
Postado por Jorge Elias às 10:33 PM 4 comentários
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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Papo de passarinho
Papo de passarinho
o vento do outono
como um pássaro que passa
partiu sem adeus
outono ou inverno?
caem as folhas confusas
no seio materno
algo mais perfeito?
as folhas mortas no campo
fecundam a terra
Ou ainda no Senryu, uma variação mais irônica do haikai clássico:
da fruta que eu gosto
a namoradinha dela
chupa até o caroço
VIII
XIII
Jorge Elias Neto
Postado por Jorge Elias às 9:54 PM 3 comentários
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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
1°de janeiro
Um poema já conhecido de muitos que acompanham este blog.
Mas não tenho nada mais significativo para postar neste momento ...
1°de janeiro
Após o pão e circo,
sigo em busca da ciência de desinventar.
No vazio do salão amanhecido
ainda ressoam os ecos dos champanhes,
os alaridos esperançosos,
os sussurros de cumplicidade.
De sólido,
ficaram os confetes e serpentinas,
que nada entendem da solidão.
(do livro Rascunhos do absurdo)
Postado por Jorge Elias às 8:00 AM 0 comentários
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